quinta-feira, 7 de março de 2019

"O Sol da Meia-Noite", de Manuel da Silva Ramos



«Não vivia, bebia. Ou antes bebia para viver. Ou melhor bebivivia. A angustiosa presença da morte nas veias de mármore dos balcões das tabernas e o peso terrível da solidão faziam-me andar sempre com lágrimas nos olhos. Irene, a minha jovem amante espanhola, tinha partido definitivamente para Barcelona, à la sauvette, pretextando uma trombose dum pai alcoólico. Ficara só dentro dum grande azulejo branco de cozinha. Por outro lado, a minha ex-mulher francesa exigia-me uma pensão faraónica para a educação da minha filha, e a minha filha estava apaixonada por mim. Acrescentando que os meus livros não se vendiam e nem tinham leitores. O quadro era ideal para me destruir. Aliás, Portugal é o país ideal para uma pessoa se destruir...»


daqui:Wook

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